Analisando a programação do AM numa DX Conference

Programação do AMNosso amigo Michel Viani, de Osasco SP, teve a alvissareira ideia de batizar com o nome DX Conference um conjunto de escutas realizadas por vários amigos ao mesmo tempo, ou seja, em tempo real (!), todos empenhados em ouvir num dado tempo a mesma frequência e se comunicando também em tempo real pelo WhatsApp! Isso em Ondas médias! Na realidade, quando alguém manda uma mensagem aos integrantes do DX Conference, todos os cadastrados naquele canal do celular recebem simultaneamente a mesma mensagem e assim comentam as ocorrências na recepção naquele momento!

A frequência é escolhida no momento do início das escutas. Em geral inicia-se às 23 horas de Brasília, indo até as 00h30 ou um pouco mais!
Muitas das vezes uma dada estação só é ouvida por uma pessoa, seja em Minas, São Paulo, Paraná, ou Rio Grande do Sul, dado a propagação ser tão variável em Ondas Médias!

Desde março, quando iniciamos as escutas, sempre usamos a lista mais recente do DXCB e o WRTH! Observamos a quantidade de redes de emissoras que se alternam, usando as frequências de outras emissoras, as quais certamente encontraram dificuldades em manter a programação tradicional e alugaram seus transmissores para grandes redes, mais notadamente as de emissoras religiosas.

Achamos plenamente normal esta alocação dos canais para outras emissoras, mas sempre foi motivo de discussão e questionamentos! Até onde a população é beneficiada com estes acordos entre emissoras? Nas suas origens, as emissoras foram criadas lá no tempo do Roquete Pinto, como porta-vozes da comunidade, com música brasileira preferencialmente, notícias em tempo real, debates, programas policiais, onde se sabe das mazelas da cidade e, bem dosado, algum programa religioso e esportes!

Mas o que observamos é uma massificação dos programas repetitivos advindos das grandes redes. Assim, numa emissora local no norte de Minas, numa região de extrema carência, os ouvintes tradicionais recebem uma programação em rede de uma emissora de São Paulo, Rio de Janeiro, que nada tem a ver com a realidade do norte de Minas! Um ruralista mineiro não se interessa em saber de falta de energia na capital! Nem que o médico do posto num bairro no Rio de Janeiro está fechado! Enfim, a emissora perde o seu cordão umbilical com o ouvinte e aí se muda o valor social desta emissora!

Mas, mesmo assim, estas emissoras transmitem alguma coisa aproveitável para os ouvintes, ao contrário das emissoras religiosas com uma programação voltada exclusivamente para o proselitismo religioso e com um só foco! Fogem totalmente dos objetivos iniciais das ideias de Roquete Pinto, seguindo aquela máxima dele que dizia que os analfabetos recebem as informações e ficam bem informados sem saber ler, pois no rádio só se ouve, não se lê!

Observamos também que várias emissoras mudaram o seu nome fantasia, o que é estranho, pois o nome tradicional é uma marca registrada da emissora. Mudar o nome em nada pode alterar a qualidade de programação da emissora! O que leva um ouvinte a escutar, ainda que debaixo de ruídos, é a programação boa!

Verificamos também que há emissoras que têm uma programação interligada com até 3 redes diferentes, isso imagino que se deve ao fato de os ouvintes até apreciarem um programa da rede, mas não a sua totalidade. Então a emissora entra em rede só nos programas de interesse dela, embora observemos uma quantidade enorme de entrada em cadeia com redes religiosas depois das zero horas, certamente por falta de programação ou de audiência do ouvinte tradicional. E aí, para faturar, alugam pra qualquer rede, seja ela qual for!

Na prática não é fácil agradar aos ouvintes nos dias de hoje, pois os jovens (uma enorme parcela deles!) têm um gosto não muito refinado comparado aos mais velhos e dão preferência às baladas nas emissoras de FM. Eles são consumidores de grande parte dos produtos e serviços divulgados nos comerciais das emissoras. Sem a audiência deles os patrocinadores não usam as emissoras pra divulgar seus produtos e elas perdem receita e audiência!

Outro fator já muito discutido desde longa data e muito questionado é o fato de que muitos donos destas emissoras nunca, ou pouquíssimas vezes, entraram nos estúdios, deixando a programação a cargo de pessoas que não têm intimidade com a radiodifusão em ondas médias. Daí temos programações que não encantam os ouvintes!

Para mudar este quadro, a emissora teria de investir em bons locutores com boa cultura, para não usarem tão erradamente a língua de Machado de Assis, e descobrirem que nossa música tem um repertório riquíssimo e interpretes de alto nível, não tendo que ficar tocando jabás e tanto lixo internacional poluindo o espectro radiofônico! Toda a programação tem que ser voltada para a população em geral!

Mas neste DX Conference podemos ver que nos mais recônditos lugares ainda temos a figura da emissora interiorana com sua programação tradicional, que ainda não foi engolida pela modernidade com seus prós e contras, com seus acertos e erros!

Assim como verdadeiros bandeirantes do éter, desbravando os ruídos, o fading na faixa, continuamos tentando todos os dias encontrar mais uma emissora nova ou nunca ouvida para a nossa lista de logs!

Wilson Rodrigues

Iniciou seu gosto pelo rádio em 1957 quando a TV engatinhava no Brasil. Em 1992 conheceu o DXCB e desde então está no grupo interagindo com os amantes do rádio! No boletim Atividade DX, faz a coluna “Matutando!”, sempre com uma pitada de bom humor. Além disso, pesquisa e monta artesanalmente antenas para ondas médias de alto ganho!

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