Um Passeio em Ondas Longas e Médias com a Antena RGP3

As antenas sempre exerceram uma atração enorme em todo aquele que usa rádio e TV.

Mesmo no cidadão mais simples sem qualquer interesse dexista, há a ideia de que uma boa antena sobre o telhado ajuda muito a melhorar a recepção de rádio e TV. E para melhorar a recepção, vale tudo, até usar lâmpada fluorescente, bombril na ponta do fio, dentre outros.

Confinados em residências cada vez mais apertadas e sem espaço, o radioescuta ou dexista se vê obrigado a ir em busca de antenas que tenham tamanhos dentro da sua realidade. As alternativas seriam antenas ativas, loops, verticais, antena de ferrite ou algum pedaço de fio escondido, compatível com o lugar!

Embora eu tenha um conjunto de antenas de alto ganho no meu QTH rural, às vezes passo dias em apartamentos ou na casa de parentes, onde tenho dificuldades em usar adequadamente um receptor de rádio. Como a banda de ondas médias sempre é a minha preferida para ouvir coisas novas quando estou fora da minha região ou estado, a antena que melhor atendeu as minhas necessidades foi a de ferrite.

Por que razão?

Para transporte, pela portabilidade que oferece, pois é pequena e leve! Pela facilidade de operar, pois usa apenas dois dispositivos, um botão de sintonia e uma chave para escolher a banda, se onda longa ou ondas médias, quando a antena tem opção para as duas. Pela facilidade em direcionar a mesma em espaços reduzidíssimos.

Como a ampla maioria dos receptores portáteis hoje são de tamanhos reduzidos, a antena de ferrite só necessita ser colocada atrás do receptor para melhorar a sua recepção magnificamente!

Antena RGP3

Antena RGP3 – Créditos: Renato Uliana

Quando o boletim Atividade DX publicou o artigo para a construção da antena de ferrite, de autoria do dexista René Gustavo Passold, da cidade de Osasco – SP, pus-me rapidamente a montá-la sem contudo levar em conta alguns parâmetros, como a qualidade e o tamanho do ferrite, dentre outros. Eu tinha uma caixa de ferrites que meu falecido pai, que era radiotécnico, havia sucateado como “ferrites sem ganho!”

Por que sem ganho?

Certa ocasião meu pai tentava a todo custo calibrar a banda de ondas médias de um receptor da Philips sem contudo conseguir êxito! O receptor era sintonizado numa frequência mais baixa (690 kHz, por exemplo), e com duas varinhas compridas (hastes de plástico) ia-se movimentando a bobina de ondas médias envolta no ferrite para a melhor recepção. Neste procedimento ele não conseguia nenhum resultado, suspeitando da qualidade do ferrite.

Ao colocarmos um ferrite original Philips o ajuste foi rápido e a recepção ficou dentro do esperado. Ao colocarmos o outro ferrite (sem rendimento) em outro receptor diferente (não da marca Philips) também não conseguimos ajustar a banda de ondas médias. O ferrite havia sido comprado no comércio de Belo Horizonte como próprio para oscilar na banda de ondas médias. Para todo efeito, era aquele mesmo! A partir desta data meu pai passou a só comprar os ferrites para ondas médias de fonte confiável.

Montando a antena RGP3

Esquecendo-me deste detalhe, passei a construção da antena, separando a quantidade de ferrites necessária, bem como o fio e o capacitor. É bom lembrar que o René passou dias e mais dias testando a melhor forma de construir esta antena para que ela oscilasse dentro da faixa de ondas longas e médias. Isso porque não bastava montar de qualquer jeito, sem considerar tamanho, pois poderia sair uma montagem enorme, um trambolho de difícil portabilidade.

Mas como todo curioso atacado pelo vírus do achismo, eu tentei melhorar o que já estava bom! E tentei fazer uma antena mais gorda, com mais ferrites, maior, mais possante, mais magnética. Ferrites era o que não faltavam (todos de qualidade duvidosa). E lá vou eu diminuindo e aumentando espiras, alterando o capacitor, e depois desta salada de experiências me quedei ante o resultado! O René estava certo! As suas medidas estavam dentro dos parâmetros certos para a antena dar o máximo de rendimentos.

Mesmo assim, meio às pressas, minha antena de ferrite RGP3 oscilava abaixo de 150 kHz, mas só ia até 1480 kHz. Eu ganhava alguns kHz embaixo, mas perdia lá em cima no final da faixa. E o pior, minha antena dava dois ganhos diferentes, ou seja, ela dava um ganho forte na sua frequência de ressonância e dava outro fraquinho, mais perceptível, em outra posição do capacitor variável. Assim optei por adquirir uma antena comercial com a marca DXCB, pois assim estava comprando uma antena testada e com controle de qualidade, na qual os ferrites são todos de procedência conhecida comercialmente, ou seja, da fábrica! Assim aproveitamos e fomos atrás de um prato giratório e de um suporte para a antena não ficar rolando sobre o prato!

A antena inicialmente foi usada com um receptor Transglobe da Philco. O rádio era deitado sobre a antena e, embora fosse uma posição complicada, funcionou perfeitamente. Posteriormente usei a mesma em um Sony SW7600G numa DX-pedição em Ilha Comprida, mais notadamente de 200 kHz até 520 kHz, em busca dos NDBs (Rádio Faróis), ocasião na qual consegui quase 90 estações diferentes de norte a sul do país em dois dias! Ao simples movimento da antena, até três estações diferentes eram escutadas. Um triângulo perfeito: um bom rádio, uma antena compacta perfeita, e um prato giratório.

Posteriormente muito afetado pelo vírus do Radiococus Frequencie, passei a testar a antena RGP3 em receptores portáteis dos mais diversos tipos, inclusive nos rádio-relógios de cabeceira, muito criticados pelas donas de casa, que falam muito mal do receptor. Em um destes rádio-relógios a seletividade era tão ruim que quando eu achava a frequência de ressonância da antena, ao girar o variável de sintonia da mesma eu escutava mais quatro estações. Ou seja, se eu sintonizasse em 860 kHz a CBN – Rio de Janeiro, ao girar um pouco para um lado o variável eu ouvia a Rádio Difusora Formiguense em 850 kHz e a Rádio Bandeirantes (SP) em 840KHz. Acima eu ouvia a Rádio Sacramento em 870KHz e a Rádio Inconfidência (Belo Horizonte, MG) em 880KHz. Ou seja, apenas girando o capacitor da antena eu ouvia cinco emissoras diferentes. Num receptor seletivo apenas ouvimos a frequência que está em ressonância com a antena.

Em um dos meus passeios na zona rural, ao visitar um amigo, vi a dificuldade que ele tinha em sintonizar algumas emissoras de ondas médias, apesar de ter uma antena esticada na ponta de um bambu. Como este fio esticado do receptor até a ponta do bambu fica quase na vertical, o receptor pega sinais de todas as direções e vira uma salada de emissoras entrando e saindo! Com a RGP3 era diferente. Eu coloquei o receptor portátil do amigo no prato giratório e na frequência de 1080 kHz. Depois de ajustar a ressonância da antena e a diretividade, lá estava firme e forte a Rádio Cultura, de Dores do Indaiá – MG. Girando noutra direção, uma emissora falava com sinal bem mais fraco, porém perceptível, de assuntos da cidade de Juiz de Fora. Possivelmente era a Rádio Capital, daquela cidade. Meu amigo apelidou de “antena de tubo” a RGP3.

Posteriormente as novas antenas RGP3 passaram a usar um plug, onde se puderia conectar uma antena externa, aumentando sensivelmente o ganho da mesma. Porém, perdia-se a direcionalidade. Minhas experiências foram inicialmente com três antenas beverage de 100 metros cada uma. Eu colocava a antena RGP3 acoplada ao receptor Sony 7600G e um cabo ligado ao plug da antena ia até uma chave onde era selecionada cada antena. Assim eu ouvia uma emissora do norte ou sul de Minas Gerais com bom sinal, e na RGP3 eu aumentava o ganho. Retirando a RGP3 do sistema, caia bem o sinal. Emissora ouvida durante o dia com a RGP3 e com sinal fraquinho tinha seu sinal melhorado sensivelmente com a ajuda de uma antena externa, fosse ela beverage, dipolo, Super KAZ ou long wire, mesmo de tamanhos reduzidos.

Há várias discussões a respeito das várias bandas de radiodifusão. As grandes massas de ouvintes hoje estão nas bandas de FM, pela qualidade do som, apesar da programação apelativa e sem qualidade. Com o término da Guerra Fria a banda de ondas curtas perdeu em parte o seu “glamour” e a banda de ondas médias perdeu em qualidade com o avanço religioso e das redes! Mas para o amante das ondas do rádio nada disto representa empecilho para continuar a praticar o hobby. Vamos nos adaptando aos novos tempos!

Há situações em que uma emissora estar em rede é bom para ouvintes cativos. Em uma viagem recente a São Paulo, eu sintonizei a CBN em sua frequência de FM na capital paulista. Dentro do ônibus eu consegui ouvi-la ate parte da cidade desaparecer. Mudando para 780KHz eu passei a ouvi-la confortavelmente. Depois de 4 horas de viagem o sinal ficou muito ruim e passei para 860KHz, onde o sinal era muito bom. Já no final da viagem, com o amanhecer, passei para 106.1MHz, sinal de Belo Horizonte, até chegar em minha residência. Como podem ver, às vezes o sinal em rede tem as suas vantagens!

Há uma pergunta que sempre está no ar. Qual a melhor antena? Quando vários dexistas estão na mesa, nem sempre há consenso! Eu gosto de fazer uma analogia com a roupa! Não vamos a uma celebração religiosa com biquínis ou calção de banho! Nem vamos a praia de terno e gravata! Assim também tem que ser com as antenas; temos que considerar primeiro a frequência e consequentemente o tamanho de onda para usar a antena adequada.

Mas partindo deste pressuposto, quanto mais baixa é a freqüência maior tem que ser a antena para ter o rendimento ideal? Aí entra a genialidade dos pesquisadores que adaptaram antenas de pequeno porte para oscilarem e dar ganhos altos sem perder a qualidade do sinal. É o caso das antenas loop, ativas, de ferrites, dentre outras. A antena loop é outra antena espetacular, sobre a qual oportunamente falaremos mais. Ela tem um ganho muito bom, é direcional e também tem preço convidativo. Porém, como vou carregar a minha de 1 metro de aresta nas viagens? Ou seja, quem reside em sítios ou fazendas pode se dar ao luxo de usar beverages, KAZ, K9AY, long wire… Mas em apartamentos e casas pequenas temos que nos contentar com antenas compactas!

Durante a Feira de Radioamadorismo e Telecomunicações em Indaiatuba – SP, no stand do DXCB, muitos foram os questionamentos dos visitantes principalmente sobre dexismo em ondas médias. Muitos não sabiam como o pessoal conseguia ouvir emissoras tão distantes com receptores mais simples, enquanto eles com receptores profissionais não conseguiam. A resposta é simples! A técnica está acima de tudo. Conhecimento sobre a propagação, antenas adequadas, técnicas de escutas, receptores mais seletivos, horário certo para cada banda, filiar-se a um clube para receber informações dos dexistas mais experientes, ser perseverante nos períodos de má propagação e, sobretudo, interagir com outros amantes do hobby! Assim o crescimento será mais rápido!

Outra grande vantagem da antena RGP3 é poder sair das interferências, mudando a direção de captação do sinal, às vezes com um simples toque para um dos lados!
Espero que com estes meus comentários todos vocês possam dar um passeio nas bandas de ondas longas e médias com a antena RGP3, fazendo bons DX.

Wilson Rodrigues

Iniciou seu gosto pelo rádio em 1957 quando a TV engatinhava no Brasil. Em 1992 conheceu o DXCB e desde então está no grupo interagindo com os amantes do rádio! No boletim Atividade DX, faz a coluna “Matutando!”, sempre com uma pitada de bom humor. Além disso, pesquisa e monta artesanalmente antenas para ondas médias de alto ganho!

9 comentários em “Um Passeio em Ondas Longas e Médias com a Antena RGP3”

  1. Marcos Emanuel Canhete disse:

    Que tipos de conectores podem ser colocados no rádio (para entrada da antena) e na antena (para encaixe na femea do rádio)? Agradeço vossas orientações.
    Marcos

  2. Tenho um Tecsun PL 660 trabalhando com duas loops (uma para OM e outra OC) fabricadas pelo colega Denis Zoqbi. Apesar de novato como radioescuta, percebo o excelente rendimento das duas antenas. Todavia, em OM o Tecsun Pl 660 apresenta um fenômeno interessante: O sinal de uma determinada emissora em sua frequência própria de emissão produz “sinal fantasma” em outra; o que confunde. Sou radioamador mas a dinâmica de ser um radioescuta na minha avaliação é diferente a de um radioamador. Agradeço a atenção.

  3. joaodamasceno disse:

    Excelente artigo, só acho uma pena que essa antena seja uma verdadeira luta para se encontrar uma… ! Há tempos que o pessoal do “AmantesdoRádio” já não manufatura uma dessas dedicadas às ondas curtas. Assim sendo, vou de velha e eficiente Long Wire mesmo… rsrs…

  4. Wilson Rodrigues disse:

    Júlio, diferentes antenas com diferentes receptores podem ter resultados também com algum grau de diferença! Um exemplo são de receptores portáteis que tem recepção muito boa, as vezes superando rádios profissionais! São poucos mas existem! Há hoje no mercado um quantidade muito grande de receptores, e antenas, que ninguém conseguira usar todos eles! Alguma antenas por exemplo não são possíveis de serem usadas em ambiente urbano dado ao tamanho! No nosso hobby aqueles que investem em pesquisas, ou são professores Pardais conseguem avançar mais com bons resultados!

    Wilson

  5. Julio Cesar Pereira - PY5WHO disse:

    Seu artigo é muito elucidativo. Nele, você menciona as antenas loop. Eu tenho uma e simplesmente me apaixonei por ela. Consigo sintonizar emissoras distantes apesar de toda a QRN produzida por lâmpadas fluorescentes, motores elétricos, ondas espúrias, tvi, etc. Na mesa de centro da sala consegui escutar uma emissora meteorológica de Bankok, uma emissora broadcast do Sri Lanka, outra da Indonésia, com esta antena, que não tem amplificador de sinal, conectada ao um Sony ICF-2010. Agora, com a chegada do equinócio de outono, estou escutando emissoras da Etiópia, Zanzibar e Zâmbia em 49m no parapeito de um prédio de quatro andares em Porto Alegre-RS com apenas esta antena e um DEGEN DE1103. Descobri no YouTube um dxista que sintonizou esta mesma emissora da Zâmbia na frequência de 5915KHz simultaneamente, porém na Grã-Bretanha com seu Sony ICF-SW55. A antena loop blindada passa para o receiver suas propriedades de isolamento e de pouca QRN. A testei com rádios mais simples como o Tecsun PL-360 e obtive resultados bem parecidos e as vezes melhores por este ter a função DSP. 73

    1. Olá Júlio!
      As antenas loop sejam para qualquer faixas são muito interessantes e com ótimo rendimento! Há colegas que também construíram antenas Loop enormes com bons resultados! Já construí uma de 3 metros de altura, só para experiência pois movimenta-la era muito complicado bem como a ação dos ventos nela se fazia notar!

      Não ha limites para invenções com as Loop, vai depender da criatividade do montador! Logicamente respeitando os limites da física para tal!

      Muito grato por sua atenção!

      Wilson.

      1. Julio Cesar Pereira disse:

        Verdade. Tenho lido sobre a K9AY e pretendo construir uma. Eu fiquei impressionado com o relato de pessoas que a usam, de como conseguem anular o sinal de emissoras próximas e assim sintonizam outras bem distantes, com sinal bem mais fraco. E olha que fiquei impressionado com esta pequenina Hula Loop que tenho. Não é todo o dia que a gente sintoniza uma emissora meteorológica de Bankok e uma broadcast do Sri Lanka com o rádio em cima de uma mesa de centro, no meio da sala. Sei que tenho a opção de estudar e tentar construir antenas, mas gostaria de encontrar uma boa para OM. 73 PY5WHO/PY5136SWL

        1. Wilson Rodrigues disse:

          Júlio,montei várias antenas K9AY – confesso que o ganho não é o forte dela, e sim a capacidade de anular sinais indesejáveis!Com o tempo aprendemos a operar essa antena e podemos ter boas captações que de outra forma seriam muito difíceis ou até impossiveis.

          Wilson

          1. Julio Cesar Pereira disse:

            Eu reparei que a minha antena loop não tem um ganho maior, mas por ser muito silenciosa, o AGC do rádio permite que se escute emissoras cujo sinal sequer é registrado pelo S-Meter. Em rádios sensíveis com “very low floor noise” isto é fantástico. É o caso do lendário Sony ICF-2010 e do pequeno Degen DE1103. Aliás, muitas vezes corro o dial com o atenuador de sinal acionado e consigo escutar melhor. Por enquanto, estou me divertindo com diferentes tipos de receivers e com a característica única de cada um. Mas, logo logo vou entrar na fase da construção de antenas e vou dar prioridade a SWL. É comum em QSOs de rádio amadores, um ou outro não escutar um companheiro que eu escuto claramente. Pode ser uma combinação de fatores, mas há casos que fica evidente que a antena que usam não é boa para SWL.

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