Receptores analógicos: não os jogue no lixo

Há alguns anos atrás resolvi fazer uma limpeza no meu posto de escuta e joguei fora alguns receptores valvulados e outros que acredito serem primos ou parentes dos Motorádio e dos Semp. Meu pai era radiotécnico e tinha uma das oficinas mais antigas da cidade. Quando ele faleceu, eu fiquei impossibilitado de manter a oficina em funcionamento, com isso trouxe para minha residência os equipamentos e os rádios que não foram procurados pelos respectivos donos. Meu posto de escuta ficou completamente lotado de rádios e na impossibilidade de usá-los a maioria acabou estragando por falta de uso. Como eram mais de 50 receptores não tive outra saída senão doá-los a pessoas carentes, principalmente os da zona rural. Como não usei nenhum critério para selecionar quais os receptores que eu poderia conservar, perdi bons receptores que poderiam servir de reserva caso houvesse necessidade.

Recentemente sentindo uma vontade de fazer umas experiências com um receptor valvulado, saí de oficina em oficina procurando alguns destes noveleiros antigos que quando ligados deixam à mostra aquele olho mágico verdinho, mas tudo debalde! Alguns radiotécnicos me diziam: “Será que ainda existe rádio valvulado?”.

Nós que somos do tempo do retificador de selênio e sabemos da qualidade de alguns valvulados uma vez ou outra temos vontade de utilizá-los. Certa ocasião nosso amigo Anderson aqui de Itaúna informou-me de um senhor em uma cidade vizinha que tinha alguns receptores valvulados para vender. Não deu outra depois de algumas horas de viagem lá estávamos eu o Anderson e mais um amigo que também gosta dos valvulados negociando com o proprietário. Depois de fecharmos o negócio deparamos com um problema: O tamanho dos receptores. Eram 2 receptores de fabricação americana da marca TMC com 52 centímetros de largura, 68 centímetros de altura e 50 de comprimento para trás e seu peso, perto de 80 quilos. Só o oscilador de batimento do TMC tem 17 válvulas e sua frente mais parece um painel de avião de tantos botões que tem. Como os rádios estavam em um sítio muito afastado da cidade nós tínhamos que levá-los de qualquer forma. Como estávamos em um fusquinha tivemos que arrancar seu banco da frente do lado do passageiro e alojamos um dos rádios no banco traseiro e espremidinho em um canto ficou o Anderson que mal podia respirar. O outro rádio nós desmontamos os módulos, receptor, BFO, e caixa. Espalhamos pelo bagageiro (parte da frente do carro), no colo do outro rapaz que foi sentado ao lado do motorista e ganhamos a estrada rumo a Itaúna. Dentro do fusquinha ficamos como sardinhas enlatadas, mal dava para respirar. Como nunca estou satisfeito com o meu posto de escuta e estou sempre modificando o mesmo, 80 quilos era muito peso para eu arrastar, passei o TMC para frente.

No mês dezembro de 99 ganhei um receptor valvulado da marca Tombrás-modelo Rouxinol de fabricação brasileira e estou realizando testes, mesmo não tendo as tecnologias dos modernos é diferente trabalhar com um receptor antigo.

Muitos colegas que possuem receptores digitais costumam vender seu Transglobe ou outro receptor veterano e se esquecem que caso o digital estragar se não tiver um segundo radio digital até que seja consertado ou adquirido outro, ficara sem ter como ouvir. É bom lembrar que o pão do pobre ou menos favorecido sempre cai com o lado da manteiga para o chão e pode ser que seu rádio pife num momento em que você estiver bem ruim das pernas ou no jargão popular: “quebrado”. Portanto não jogue fora seu rádio analógico, consiga um cantinho para ele no seu posto de escuta e se ele foi seu fiel companheiro por muitos anos dê-lhe uma oportunidade de continuar lhe servindo.

Muitos radioescutas e dexistas gostam de escutar programas de notícias, documentários, entrevistas dentre outros sintonizando emissoras que colocam um bom sinal na sua região, sem a pretensão de enviar relatórios, portanto para ouvi-las os receptores sem grandes recursos servem plenamente. Aí está mais um bom motivo para não jogar fora o velho analógico. E por experiência sabemos que de vez em quando bate uma vontade de ligar um receptor antigo, mesmo que você possua os mais modernos e é bom lembrar uma frase antiga: “Quem come filé todo dia de vez em quando sente vontade de comer capa de costela!”.

Em último caso, se você optou por desfazer do rádio antigo quem sabe valeria a pena doá-lo a um radioescuta carente ou a algum jovem que está tomando gosto pelo hobby, assim ele terá um destino melhor que o lixo!

Por Wilson Rodrigues

Wilson Rodrigues

Iniciou seu gosto pelo rádio em 1957 quando a TV engatinhava no Brasil. Em 1992 conheceu o DXCB e desde então está no grupo interagindo com os amantes do rádio! No boletim Atividade DX, faz a coluna “Matutando!”, sempre com uma pitada de bom humor. Além disso, pesquisa e monta artesanalmente antenas para ondas médias de alto ganho!

3 comentários em “Receptores analógicos: não os jogue no lixo”

  1. qslworld disse:

    Preciso de um frequencimetro para colocar no meu radio Transglobe Philco álguem sabe onde posso conseguir montado ou esquema,para montar´desde ja agradeço.
    QSL do Brasil

  2. Wilson Rodrigues disse:

    Sim, o rádio tem muitos sinais interessantes de serem ouvidos e apreciados.Um pouco de paciência para vasculhar cada canto do dial ajuda nesta busca por sinais exóticos e interessantes! Principalmente se você estiver em um lugar sem ruídos elétricos que atrapalha a boa escuta de rádio!

  3. ximenes disse:

    com receptores analógicos frequência aberta sem cristal da pra sintonizar sons irreconhecíveis a serem estudados (ovines)

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