A radiotelegrafia sobreviverá?

Amada e odiada pôr muitos adeptos do rádio, a radiotelegrafia, considerada morta para alguns, em estado de coma para outros, ainda é motivo de amplas discussões.

 

 

Há em torno de 20 anos atras quando sintonizávamos as bandas de Ondas Curtas e Tropicais as vazes ficávamos aborrecidos com as interferências das estações telegráficas que compartilhavam as freqüências com as emissoras de radiodifusão. Na medida que voltamos mais e mais anos atras estas estações radiotelegráficas eram em um número ainda mais significativo.

Muitas pessoas devotavam todo seu ódio a telegrafia não pelo fato de ser um método considerado arcaico, mas sim pela dificuldade que o código morse tinha em entrar na sua cabeça. Pessoas que dominavam 5 ou mais idiomas, faziam cálculos matemáticos complexos, se quedavam diante do invento de Samuel Morse.

Mas na primeira e Segunda Grande Guerra Mundial o código morse através da radiotelegrafia foi manipulado e decodificado pôr soldados simples que enquanto anotava as mensagens conversavam com seus colegas de infantaria. Para eles a interpretação do código morse era coisa corriqueira.

Quando criança eu e meus colegas íamos a estação ferroviária para do lado de fora, na plataforma de embarque vermos os agentes da estação enviar e receber mensagens.

A diferença do morsista e do radiotelegrafista, esta no fato do morsista receber a mensagem em uma fita, com os caracteres em pontos e traços, em uma máquina muito barulhenta, e no rádio, os sinais vinham em forma de sons curtos e longos formando uma espécie de melodia. Na década de 70 surgiram os discos de vinil que tinham cursos sobre a telegrafia.

Aprendi a telegrafia com um destes discos. Para que a aula fosse mais rápida eu colocava a rotação do toca discos em 78 rotações e ali ficava a escutar para delírio da minha família que achava aquele som uma tortura!

Depois de casado ainda usei estes discos para aperfeiçoar meus conhecimentos de telegrafia mas minha esposa não tão generosa quanto meus pais ameaçou me deixar sem almoço e janta. “Não suporto mais ouvir todo dia este ti-ti-ti, ti-ti-ti meu Deus! Mas a telegrafia pode ao longo dos tempos nos levar através das ondas do rádio aos mais distantes lugares principalmente através das emissoras utilitárias!

Mais recentemente a tragédia do submarino russo Kursk cogitou-se que foram ouvidas as tradicionais batidas do código morse SOS pela tripulação no casco da embarcação. Em agosto de 1988 o submarino peruano “Pacocha” em um acidente similar foi estabelecida comunicação dos mergulhadores da marinha com os tripulantes do Pacocha através de pancadas no casco do mesmo para o entendimento da arriscada operação de salvamento dos tripulantes naquela operação mais de 20 tripulantes foram salvos . Não existe nenhum outro processo ou código, que possa estabelecer contato numa situação desta a não ser pelo código morse, “simplesmente não existe!”.

Se dentro da tripulação não houvesse quem decodificasse o código morse a comunicação não se estabeleceria. Parodiando um amigo fazendeiro que diz: Quando o moderno trator pifa, o jeito e ressuscitar o arado com a junta de boi! Digo que, quando as mais modernas tecnologias falham o jeito e ressuscitar a velharia! Muitas pessoas podem indagar, porque aprender um código quase extinto no nosso meio? Eu poderia lhe responder com outra pergunta. Quem pode dizer que um dia não vá necessitar de um código que possa lhe ajudar a escapar de uma situação perigosa?

Jornais e revistas inúmeras vezes noticiam casos de pessoas que ficaram totalmente paralisadas na cama só abrindo e fechando os olhos como conheciam o código morse estabeleceram comunicações com outras pessoas piscando os olhos na cadencia dos radiotelegrafistas em piscados curtos e longos e eram entendidos corretamente.

No banco onde eu recebia o pagamento da empresa em que trabalhava, um dos caixas que lá trabalhava conhecia bem os sinais telegráficos e sempre que percebia minha presença na fila enviava uma mensagem através de uma tecla da sua máquina que emitia um som agudo e que eu percebia ser uma mensagem. Alias essa máquina já saiu de circulação há muitos anos exatamente pelo barulho chato que emitia. Em meio a todo aquele rebuliço do banco eu recebia a sua mensagem telegráfica via máquina de somar.’ “Wilson pude perceber que o seu vencimento deste mês veio bem gordo, que tal me emprestar uns trocados, Hi, Hi, Hi.” ( Hi em telegrafia significa risadas! ) Tenho quase certeza que ninguém no banco percebeu a mensagem na máquina de somar.

O cartão QSL da estação utilitária VAI Vancouver Coast Guard Radio de Vancouver no Canada eu consegui em um dia em que a propagação para aquele país estava totalmente fechada mas consegui escuta-la com seus sinais em telegrafia extremamente baixos em 17.175,2KHz e enviei o relatório e consegui a confirmação. Com aquela propagação ruim só mesmo em telegrafia!

Sou suspeito em falar sobre radiotelegrafia pois sempre gostei desta modalidade de transmissão e sempre que posso fico ouvindo estas estações. Mesmo sabendo que dia a dia elas vão desaparecendo, acho que vale a pena aprender telegrafia pois ainda existem muitas estações operando nesta modalidade, e não deixa de ser uma coisa exótica, diferente, um código indecifrável para muitas pessoas!

73’do amigo Wilson Rodrigues

Por: Wilson Rodrigues

Wilson Rodrigues

Iniciou seu gosto pelo rádio em 1957 quando a TV engatinhava no Brasil. Em 1992 conheceu o DXCB e desde então está no grupo interagindo com os amantes do rádio! No boletim Atividade DX, faz a coluna “Matutando!”, sempre com uma pitada de bom humor. Além disso, pesquisa e monta artesanalmente antenas para ondas médias de alto ganho!

6 comentários em “A radiotelegrafia sobreviverá?”

  1. Jamil Sousa godoi disse:

    Fui radiotelegrafista dos bons!! A profissão infelismente acabou!! E mesmo como hobbies em radioamadorismo esta acabando… E quando acabar, o radioamadorismo também acabara porque aquele papo de aranha e de dar dor de cabeca em cabeca de prego!! Uma mentira da!… Jamil

  2. Paulo Eduardo Castaldi - PY2CWS disse:

    A Pergunta mais correta ao meu ver deveria ser…” O RADIOAMADORISMO SOBREVIVERÁ SEM A TELEGRAFIA ?” Pois ao meu ver, o remédio para salvar o moribundo está chegando tarde de mais, pelo menos uns 30 anos. Enquanto for permitido fazer CW nas faixas de amador o radioamadorismo estará vivo, mesmo que não seja mais exigido passar por essa prova para ingresso ou promoção. Radioamadorismo é estudo, treinamento e pesquisa. Telegrafia faz parte disso, montar equipamentos, antenas, fontes, etc também faz. A partir do momento que “morre” o cérebro o resto do corpo morrerá junto, é apenas questão de tempo. Por isso nunca devemos dispensar essa ou aquela modalidade, sob pena de estar colaborando com a extinção total de um serviço maravilhoso.

  3. A Marinha inclusive faz até concursos de radiotelegrafia, muito legal e os caras são altamente habilidosos. Já sobre o “fim da telegrafia” não creio que isso de fato ocorrerá, creio sim, que haverá uma atualização dos meios, por exemplo, o uso de computadores para escrevermos o que desejamos na tela do micro e ele converte em Morse a o transceptor envia. Do outro lado o cara recebe no transceptor dele e o computador decodifica na tela no micro (na verdade até já tem app onde você aproxima de uma escuta em Morse e o app decodifica te dizendo o que há na mensagem). Sou radioescuta e praticante de DX em ondas curtas, não me interesso em radioamadorismo, porém, essa questão de radiotelegrafia, acho extremamente interessante, já cheguei a fazer cursos, porém, sem a prática é impossível assimilar.
    Por curiosidade aí vai um link que acho muito legal… http://morsecode.scphillips.com/translator.html

    1. João, os SDRs modernos tem essa modalidade de decodificar a telegrafia mesmo em alta velocidade, facilitando os comunicados para quem são domina cw ou que não consegue acompanhar velocidades maiores de manipulação!

      1. joaodamasceno disse:

        Ôpa, mais um motivo pra eu instalar meu SDR (nunca consegui)….!!!

  4. joao pedro xavier disse:

    Boa noite companheiro, vc não está sozinho, o Exército Brasileiro tem um curso voltado para a formação de radiotelegrafistas que atuam em too território nacional

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