Como vão as Ondas Médias?

Eu costumo dizer aos amigos que tudo que se faz na vida, nós o fazemos com grande intensidade e fervor, quando existe estímulo, incentivo, quando alguém nos dá força, ou, em outras palavras, quando estamos no pique. Seja qual for a atividade.

Recentemente resolvi me dedicar a enviar informes de recepção para emissoras de Ondas Médias, dando preferência para as pequenas emissoras do interior. Já sou antigo ouvinte de Ondas Médias desde muitas décadas, e sempre fui muito modesto em meus relatórios, enviando-os uma vez ou outra para algumas emissoras aqui do Brasil. Sei que muitos dexistas que são muito ligados nas Ondas Curtas, nunca enviaram um informe sequer para uma emissora daqui ou do exterior, muitos nem sequer vão, mesmo que esporadicamente, a faixa.

Como eu disse acima, tem que ter alguma coisa que estimule, caso contrário ele jamais irá a faixa. Infelizmente as emissoras de Ondas Médias tem a fama de ser as que menos confirmação dão, principalmente quando se trata de emissoras do Brasil. No caso de emissoras internacionais as confirmações ocorrem normalmente. Com uma fama assim, muitos ficam receosos de não receberem a tão esperada confirmação e não se arriscam. Mas existem radioescutas que faturam alto na banda, e são especialistas, recebendo um percentual alto de confirmações e brindes, uma vez que é costume das emissoras presentear seus ouvintes. Bem, mas vamos deixar os “entretantos” e vamos direto aos “finalmentes” comentando sobre a faixa.

Antigamente podia-se vasculhar a faixa e achar uma diversidade muito grande de programas desde novelas, programas de auditório, policiais, enfim uma infinidade, e que eram comuns a muitas emissoras.

Recentemente conversando com colegas do DXCB concluímos que a faixa está deste modo: Redes de emissoras que transmitem o mesmo programa, Emissoras religiosas que transmitem uma programação só direcionada aos seus adeptos, esquecendo que pessoas com outros credos também escutam a mesma. Há estações que transmitem horas a fio sem dar prefixo, hora, nem comentam de onde transmitem, simplesmente a gente acaba mudando de estação logo. Outro fato que merece destaque, é o fato da maioria das emissoras nunca mencionar o seu endereço postal ficando até o ouvinte comum, (aquele que não é radioescuta), sem poder entrar em contato com a emissora. Sinceramente, acho que tem muito V/S pôr ai que deveria estar trabalhando em fazenda e deixar seu lugar para uma pessoa mais criativa. Diga-me agora sem titubear, quantas emissoras realmente ótimas você escuta regularmente, não a fim de enviar informe, mas sim por prazer? Certamente uma meia dúzia ou menos, creio eu, e, diga-se de passagem, é um percentual baixíssimo dado ao enorme número de emissoras no ar pelo Brasil afora. Isso se deve a programação que nem sempre segura o ouvinte que acaba correndo para as FMs ou para a TV. Certamente os amigos devem estar pensando: Mas até agora o Wilson só falou mal da faixa! E aí ? Mas as ondas médias também tem muitos atrativos, e dependerá, é claro, da sensibilidade do ouvinte em enxergá-los “com os ouvidos”!

Com o dinheiro gasto para custear os portes internacionais, você pode enviar aqui dentro do Brasil muito mais que o dobro de informes, que também irão chegar mais rápidamente a emissora. Outra vantagem: é o idioma que é o nosso, que agiliza o informe e que da oportunidade de “conversar mais” com a emissora. Acho que não é necessário dizer como é difícil enviar um informe para uma emissora com programa em dialeto seja lá qual for.

Ouvindo Ondas Médias, você vai ficar profundo conhecedor da nossa música, pois se forem emissoras do interior, elas dão preferência aos pseudos-caipiras, (os autênticos caipiras poucas vezes são tocados), as bandas da Bahia, aos pagodeiros, e a turma do “Tum…Tum… Tum…” , assim os chamo pois ouve-se um instrumento tocando e o restante do conjunto musical executando um interminável “Tum…Tum…Tum…”. (Aliás, deixem-me aproveitar o espaço para fugir um pouco do assunto, e dar um pulinho nos programas musicais da TV. Parece que todos os cantores combinaram de se apresentarem da mesma forma nos palcos da TV. É interessante, sempre aparece um rapagão forte, de terno, cabeça raspada, ou com o cabelo bem baixo e pintado de vermelho, azul, branco, (nunca usando a cor natural), brincos nas orelhas, com um microfone na mão, e atrás dele um montão de rapazes também de terno, segurando um microfone, e ali ficam balançando de um lado para o outro e, o que é mais estranho, SEM CANTAR. Quanto a letra da música não e necessário comentar, aliás nem dá para comentar. Desculpem-me o desabafo, mas sei que os colegas padecem com o mesmo problema no dia a dia na TV…)

Um fato interessante na faixa é a quantidade de emissoras na mesma freqüência o que faz com que em certos momentos haja um bailar de músicas, pessoas falando, apitos provocados por batimentos, ruídos de toda ordem, enfim uma salada de barulhos. No meu QTH rural já cheguei a ouvir com uma boa antena até 9 emissoras na mesma freqüência no intervalo de 30 minutos, algumas é claro somente por alguns minutos. Em maio de 1995 as 18:13 hora local, escutei a Rádio Educadora AM, de Porteirinha-MG, com sinal baixo, pois a Jovem Pan, São Paulo-SP opera na mesma QRG com muita potência, (620 kHz). Nunca mais consegui escuta-la, pôr mais que tentasse.

Há emissoras que você escuta hoje e levará anos para escutá-la novamente. Portanto se a emissora de sua cidade ficar fora do ar pôr algumas horas, não deixe de tentar ouvir uma outra estação interessante e confirmá-la pois pode ser que ela só lhe dê a mesma oportunidade daqui a 10 anos ou mais.

Não sei qual é o critério que os V/S destas estações usam para confirmar ou não o informe. Um amigo da Bahia informou-me sobre uma estação do sul de Minas Gerais que retribuiu o mesmo com CDs, camisas da emissora, adesivos, fitas de áudio, fita cassete com documentário turístico da Cidade, canetas, e a confirmação. Fiquei com a boca cheia d’água e preparei um relatório de recepção com uma fita gravada, postais da cidade, dentre outros e registrei o porte. Nunca recebi resposta. O amigo Baiano fez seu relatório em meia folha de caderno escolar e nada mais. Para o V/S da emissora seu relatório modesto valeu mais que o meu, assim entendi !

Já fiz milagre, ouvindo aqui em Minas, a Rádio Relógio do Rio de Janeiro em 580 KHz durante todo dia com a antena loop. Também não e necessário comentar que na zona rural a recepção é outra coisa, ouve-se até sinais do “Além” quando a propagação ajuda!

Agora também não escondo que no pique em que estou nas Ondas Médias já estou cansado de ouvir : “Rio Negro e Solimões”, “Zezé di Camargo e Luciano”, “É o Tcham”, “Jornada Esportiva”, “Polícia é Notícia”, banda fulana de tal, etc.

Baseado em tudo que aqui falei ainda acho que vale a pena ouvir, e confirmar, essas emissoras principalmente para quem gosta de receber brindes. Tenho dezenas de relatórios circulando por este Brasil afora e espero uma vez ou outra comentá-los na coluna QSL.

Um outro fato interessante que ocorreu comigo, foi escutando uma estação do interior de São Paulo que tocava uma música do cantor sertanejo Daniel, e enquanto eu aguardava a execução da música fui pegar uma guloseima na cozinha, logo depois voltei para conferir alguns detalhes da programação que eu gravava , assim que acabou a música fiquei atento a programação e percebi que os assuntos comentados, comerciais, telefonemas, eram de uma cidade de Minas Gerais. O que aconteceu foi que a estação de São Paulo sumiu com o seu sinal e pôr coincidência outra de Minas, sobrepôs a ela com a mesma música e eu perdi a gravação.

Vejo nas Ondas Médias um grande desafio para qualquer Dexista, uma vez que a grande maioria das estações, principalmente as pequenas do interior, muitas das vezes são ouvidas debaixo do fogo cruzado das grandes emissoras. Você tem que desviar sua atenção do sinal forte da emissora mais possante e concentrar-se na pequena para não perder detalhes da programação.

Creio que para se ter êxito nas confirmações, uma correspondência bem redigida, um relatório não muito técnico, algumas informações pessoais, um elogio sincero, e algumas críticas construtivas podem ajudar muito para o sucesso da escuta. Imagino que pelo fato de não ser uma coisa corriqueira a recepção de relatórios pelas emissoras do Brasil, a atividade é até certo ponto desconhecida. Um radioamador de Santa Catarina comentou-me certa vez que enviou um informe para uma emissora do interior de Minas Gerais na região norte, portanto, muito distante, o V/S da emissora ligou para sua residência e comentou que não acreditava que ele poderia ter ouvido “Pois estavam muito distantes um do outro” rapidamente o catarinense ligou seu rádio e chegou o microfone do telefone próximo do alto falante do rádio e indagou ao V/S céptico: “É essa a programação que esta no ar agora? ” Não ouve outra forma de comprovar a escuta e o informe foi confirmado. Portanto se você dispõe de telefone não deixe de mencioná-lo nos informes. Interessei-me pelas Ondas Médias depois que ao mostrar meus cartões QSL para um leigo ele perguntou-me: “E confirmações destas pequenas emissoras do interior deste Brasilzão afora você não tem? Gostaria muito de vê-los!”

Bem amigos, quis neste artigo fazer um comentário diferente, sem ficar falando do corriqueiro, não sou um cobra-criada em Ondas Médias, portanto alguns colegas podem discordar em parte ou em todo artigo. Caso isso ocorra escreva para a coluna Rádio Contato e dêem a sua opinião.

Espero que os comentários tenham despertado a atenção de vocês para as Ondas Médias.

Por Wilson Rodrigues

Wilson Rodrigues

Iniciou seu gosto pelo rádio em 1957 quando a TV engatinhava no Brasil. Em 1992 conheceu o DXCB e desde então está no grupo interagindo com os amantes do rádio! No boletim Atividade DX, faz a coluna “Matutando!”, sempre com uma pitada de bom humor. Além disso, pesquisa e monta artesanalmente antenas para ondas médias de alto ganho!

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