Você é doido? A discriminação que o dexista sofre

Amigos, o nosso assunto deste Matutando DX será também um tema polêmico, pois iremos comentar o relacionamento do radioescuta e dexista com o preconceito das pessoas a seu hobby.


Certa ocasião participando de uma festa de fim de ano com amigos, um dos participantes ofereceu-me uma dose de cachaça, e eu respondi-lhe que não tomava bebida alcóolica. Em seguida ele retirou um cigarro e insistiu para que eu pegasse um, minha recusa não agradou ao rapaz. Assim que tirou umas tragadas, retirou do bolso um jogo de cartas de baralho e perguntou: “Você não bebe, não fuma, será que pelo menos joga um baralhinho?” Respondi-lhe que não, e em seguida o rapaz começou a dizer tanta besteira que tive de abreviar minha saída da festa.

 

Nada tenho contra quem fuma, bebe, e joga baralho. Só que como respeito o gosto de quem os aprecia quero que a recíproca seja verdadeira! Dizem os sábios que gosto não se discute! Será? Outros sábios contradizem, dizendo que existe o bom gosto e o mau gosto, à diferença entre um e outro pode estar na compreensão de cada um fazer seu julgamento colocando o bom senso acima de tudo. No passado as pessoas comentavam que fulano de tal ficou louco de tanto estudar, como se todos que estudam com afinco tivessem como destino ficar como o personagem Dom Quixote De La Mancha de Miguel de Cervantes, que enlouqueceu com os livros sobre a cavalaria.

 

Hoje essa idéia já foi abolida do nosso meio, pois se sabe que o estudo literário ou técnico ou qualquer que seja serve como ginástica para o cérebro, isso segundo os estudiosos no assunto. Tal fato tanto é verdadeiro que as pessoas que são muito esclarecidas, cultas, evoluídas raramente chegam à velhice com problemas de senilidade, (no jargão popular: caduquice). Um político brasileiro comentou em certa ocasião: “No Brasil o errado é que é certo!” Tal comentário tem um fundo de verdade, pois se você não gostar de certos vícios, costumes, e hábitos da população será muitas vezes recriminado e discriminado. Para muitos, legal é o indivíduo que usa brinco, tatuagens, fuma, bebe, participa de torcida organizada, luta caratê, faz pega com veículos, gosta de música de metaleiro ou pertence a uma gangue.

 

Quem foge a isso tá fora do grupo. O dexista não foge a regra. Como nosso hobby é pouco conhecido, quando defrontamos com as pessoas que tem uma visão diferente da nossa e que enxergam o mundo quadrado, a discriminação vem junto. O que leva uma pessoa a gostar de rádio ou não? Passou de pai para filho? Conviveu com pessoas que gostavam do hobby? Surgiu assim na sua vida de repente? Cada um tem seu comentário a fazer. O que levaria uma pessoa a discriminar ou fazer chacota de um costume ou comportamento do outro? Acredito que só pode ser a forma de enxergar o mundo. Todos têm olhos, mas a forma de ver as coisas muda de pessoa para pessoa.

 

Existe um jogo de observação que os chefes escoteiros usam para verificar a atenção dos garotos. Os garotos são solicitados a entrarem dentro de uma sala e aguardarem os chefes lá dentro por um minuto. Logo depois são chamados para fora e é pedido a cada jovem que escreva em uma folha em quatro minutos tudo que ele viu dentro da sala. O resultado é sempre impressionante, pois tem jovem que praticamente enumera tudo enquanto que outros praticamente não viram nada! Um dexista comentou comigo que o que mais machuca quando é discriminado, é o fato da dela sempre partir de pessoas que não tem nenhum conhecimento sobre o hobby, sendo que a sua ignorância deixa-o cego. A discriminação contra o radioescuta começa quando ele vai montar suas antenas. O síndico do prédio o impede. O vizinho vive perguntando se as suas antenas não irão atrair raios para sua casa que esta próxima.

 

No meu último encontro com o amigo Turelli, eu comentei com ele: “Toda uma vida ainda é pouco para desfrutarmos de tudo que ela pode nos oferecer”. São tantas coisas boas que ainda não fizemos, que sentimo-nos impotentes ante nosso maior inimigo. O tempo, 4,3,2, 1, 0… e ainda temos que agüentar preconceito das pessoas discriminando o pouco que temos direito para nos fazer felizes!

 

Antes de aposentar eu trabalhava em uma indústria metalúrgica, certa vez ao comentar com um colega da minha seção, sobre o preço do receptor que eu havia adquirido, o Sony 7600G ele ridicularizou comentando que era muita coragem dar tanto dinheiro por um rádio, e segundo ele o receptor que tinha em casa faria tudo que o Sony fizesse. Mesmo sabendo que estava perdendo tempo aceitei seu desafio de no outro dia trazer cada um o seu receptor.

 

No dia posterior no horário do almoço lá estava eu com o Sony debaixo do braço aguardando o colega com o seu. Um dos colegas se colocou como Juiz para as devidas avaliações e pediu ao colega que colocasse sobre a mesa o seu rádio que custara vinte reais e que faria frente a qualquer outro rádio. Ao retirar de dentro da sacola um velho Telespark a turma da seção já começou a rir.

 

Assim que coloquei o Sony sobre a mesa disse-lhe: “Coloque seu rádio em SSB e sintonize uma estação utilitária”. Perguntou-me: “SSB, o que é isso?”. Aí então respondi: ”Bom deixa pra lá, sintonize primeiramente em 300kHz e depois em 25MHz“. Ele me respondeu: ”Meu rádio não tem estas freqüências!”. Perguntei-lhe ainda: “Bem, então me mostre quantas memórias tem seu rádio? Quantas horas esta marcando o relógio do seu rádio? Programe-o para desligar daqui a dois minutos”.

 

Nesta altura o colega já se sentindo humilhado pegou seu Telespark, sumiu, se escafedeu, desapareceu e nunca mais tocou no assunto. Não recomendo que os colegas venham a agir desta forma, pois pode aumentar mais ainda a discriminação do seu oponente e não leva a nada. Eu agi assim porque se tratava de uma pessoa que realmente precisava de uma lição, e, como o meu estopim queimou-se todo, cheguei no meu limite!

 

Creio que a discriminação nunca acaba ela só muda de lugar, hoje ela fere os dexistas amanhã os criadores de Orquídeas, logo depois os colecionadores de cartões telefônicos e vai por ai atacando sem olhar raça, credo, idade, etc. O mínimo que podemos fazer é evitar essas pessoas que no jargão popular são chamados de: “PROSA RUIM”.

 

Por: Wilson Rodrigues

Wilson Rodrigues

Iniciou seu gosto pelo rádio em 1957 quando a TV engatinhava no Brasil. Em 1992 conheceu o DXCB e desde então está no grupo interagindo com os amantes do rádio! No boletim Atividade DX, faz a coluna “Matutando!”, sempre com uma pitada de bom humor. Além disso, pesquisa e monta artesanalmente antenas para ondas médias de alto ganho!

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